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22 de dezembro de 2012

É possivel ver a nossa loucura?


Traçar os limites entre doença mental, falta de educação, comportamentos reativos e relativos  à  uma certa cultura e outras dezenas de possibilidades de classificação derivadas de formas de observação e entendimento não é tarefa simples se é que  possível. Há uma respeitável negação entre  nós daquilo que nos ocorre quando observamos alguma coisa  que nos deixa impotentes. Muitos, em meio a angustia da incerteza, ficam muito sabidos e cheios de certezas numa manobra mais ou menos consciente e compensatória. O fato é que  não gostamos de não saber ou de mesmo sabendo alguma coisa não poder fazer nada ou quase nada frente ao que é imposto por nossas mentes ainda que estimulados por fatos externos. 

O assassinato de crianças na escola em Connecticut por um jovem de 20 anos há quinze dias estimulou em mim essas questões. Eu clinico desde 1985 entre psiquiatria ambulatorial e hospitalar, serviço publico e privado e psicoterapia e psicanálise. Durante todos esses anos já vi muitos modos de funcionamento entre nós humanos. Ja li muita teoria, muita classificação, muito entendimento. Não ha uniformidade nos processos mentais humanos, apesar de haver invariâncias significativas. A apreensão da realidade interna e externa é altamente subjetiva, inaferivel por terceiros pelo menos de forma confiável. As drogas psicoativas desenvolvidas para lidar com os "distúrbios" mentais ajudam muito muitas vezes, não tenham a menor duvida. 

A demonizaçao dessas drogas por conta das brutais interferências da industria farmacêutica são compreensíveis, mas nos induzem a crer que as medicações não são importantes. Grande parte das pessoas medicadas hoje estariam reclusas em hospitais psiquiátricos possivelmente pela vida toda. Por outro lado transformar em doença toda manifestação humana de angustia, medo,  dor  e sofrimento claramente derruba por água abaixo qualquer idéia de não doença. Estamos bem longe de nos acostumar com a maneira errática com que nossa mente opera. 

A submissão ao instituído social é  estimulado pela sociedade e pela família como meio de garantir ao indivíduo a sobrevivência, mas desconsidera os resultados dessa submissão. Nada disso sai barato, nada disso é endereçado na nossa sociedade por uma simples razão: não temos tempo, interesse e condições mentais para ter tempo e interesse. Quem quiser leia esse artigo escrito por conta desse massacre numa revista eletrônica de psiquiatria.

http://bit.ly/UQeo9t

Um comentário:

Ricardo Anderáos disse...

Ao afirmar que "a apreensão da realidade interna e externa é subjetiva, inaferivel por terceiros", você implicitamente reconhece que o ser humano é muito mais complexo do que supõem nossos pensamentos e teorias, que as emoções são provavelmente o cerne de nossa experiência e que, portanto, qualquer tentativa efetiva de comunicação entre dois seres humanos (seja como médicos, amigos, amantes, pais, escritores ou filósofos) deve partir da própria experiência vivida , e não de nossas idéias pré-concebidas do que é o eu o o outro.