Páginas

15 de dezembro de 2012

Para que matar vinte crianças?

Foto: Michelle McLoughlin / Reuters 

Frente ao assassinato brutal de vinte crianças e seis adultos em uma escola de ensino fundamental em Connecticut, nos Estados Unidos todos nós podemos nos perguntar o porquê. Todos nos perguntamos para que, qual a função de matar tantos inocentes? Pois a resposta não è fácil, mas é possível supor que o assassino não tivesse nada pessoalmente contra a maioria dos que matou. Que se saiba, no momento,a única pessoa que ele matou fora da escola e antes de todas as outras foi a própria mãe. Os soldados em guerra matam conhecidos? Pilotos de avião em guerra miram conhecidos quando jogam as suas bombas do alto? Políticos corruptos matam desconhecidos ao retirar os recursos que serviriam para um fim social e os usam para fins pessoais ou partidários. Criminosos comuns matam basicamente desconhecidos.

As crianças mortas não eram conhecidas do tal assassino, mas a mãe do assassino era professora da escola onde as crianças foram mortas. Alguma conexão? Quem não fica tentado a estabelecer uma conexão? Ele estaria matando simbolicamente todos os irmãos que o roubaram dos olhos de sua mãe? Ele estaria matando então invejosamente. Ele estaria como Ajax se vingando dos generais que preferiram dar a armadura de Aquiles para Ulisses, Odisseu em grego. Ajax se sentia merecedor porque lutava contra o inimigo, os troianos, sem a ajuda dos deuses ao passo que seu rival não dispensava tal colaboração. A mesma deusa de quem Ajax não aceitou ajuda fez ele matar todo rebanho conquistado pelos gregos enquanto ele pensava que matava os generais. Ajax se deprime , talvez a única depressão descrita em detalhes nas lendas gregas, e se mata. Morreram as vacas e Ajax. Que guerra era essa? O matador de Connecticut matou muito mais do que vacas, ainda que enquanto matava matasse alguma coisa que não eram aquelas crianças.

Devemos ficar atentos a existência de uma vida mental em nós e nos que nos cercam. Sofrimento psíquico é muito mais do que um diagnóstico é uma presença brutal e brutalizante dentro de alguém . Nao é possível evitar que humanos "mentados" tenham sofrimento, mas é possível retomar a cultura humanista que considerava a mente humana mais do que sinapses neuronais e os sentimentos e pensamentos e phantasias mais do que o tilintar de neurotransmissores. Simbolizar só é possível quando isso é considerado superior a ação não psíquica. O assassino não sabe pensar, se soubesse não mataria vinte crianças, nem essa pobre mãe colecionadora de armas de fogo. Pensava ela o que quando as colecionava? Agora é tarde.

Nenhum comentário: